Forwarded from Raphael Machado
O Cão como Criatura e Professor do Homem
Todo mundo, certamente, já se perguntou do porquê da curta longevidade do cão e que propósito ele cumpre se sua vida dura tão pouco. Em um cosmo ordenado e harmonioso, em que todos os entes estão organizados conforme uma vontade divina, não é despropositado refletir sobre o "propósito" do cão vis-à-vis o homem.
As explicações meramente "funcionais" me parecem claramente insuficientes. Sim, sabemos que cães "guardam rebanho", "vigiam a casa" e "ajudam a caçar", mas essas utilidades representam simplesmente a expressão de um vínculo mais profundo.
Propedeuticamente, é interessante saber que os cães foram o primeiro animal domesticado pelo homem há 15-20 mil anos. Os primeiros passos dessa domesticação são desconhecidos, apesar de haver alguns bons palpites que apontam para uma relação de comensalidade que foi se tornando algo cada vez mais próximo.
Na verdade, o fato de que socialmente e eticamente os homens são mais semelhantes aos lobos do que aos chimpanzés indica que, provavelmente, o lobo foi tão domesticado quanto o homem foi socializado ao modo lupino. Certamente, a presença dos lobos deve ter ensinado aos homens no mínimo algumas táticas de caça, tal como o próprio lobo passou a servir como arma do homem em suas caçadas.
Essa mutualidade lobo-homem que jaz na aurora da domesticação que gerou o cão deve ter algum papel nos ritos e mitos de licantropia. O homem-lobo está não apenas invocando uma força totêmica que se manifesta como lobo, ele está também ativando uma "memória ancestral" de um tempo em que os homens se comportavam como lobos para caçar melhor - ou seja, viravam lobisomens.
A consagração disso aparece, por óbvio, no mito de fundação de Roma, no próprio festival romano da Lupercalia, e em outros mitos e eventos semelhantes comuns à Europa e à Eurásia.
Enfim, a partir dessa época (e estamos falando aqui do Pleistoceno) os cães passaram a fazer parte do quotidiano humano, como o primeiro animal domesticado/socializado. Imaginamos, inclusive, que o ato de dar um filhote de presente para um jovem não deve ser novidade do século XX. Considerando o tempo que Ulisses ficou ausente de Ítaca, por exemplo, bem como a idade aproximada de retorno, e a idade lendária do cão Argos (23-25 anos), ele deve tê-lo recebido de seu pai no início de sua idade adulta.
O que é certo, porém, é que entre gregos e romanos os cães eram onipresentes, o que se manteve na Idade Média e até tempos relativamente recentes.
A partir daí, penso ser possível comentar algumas coisas sobre os propósitos mais profundos do cão:
1) Ele ensina ao homem sobre a morte e a impermanência de todas as coisas. Ainda que a vida humana, historicamente, sempre tenha estado permeada pela morte, a realidade é que longe dos filmes, séries e livros, a vida humana era pacata a maior parte do tempo. A "expectativa de vida" estatística para o passado dá resultados baixos porque a mortalidade infantil era alta. Mas quem sobrevivia mais que alguns meses provavelmente só morreria velho.
Assim, ao longo da história, por toda parte, certamente a morte do cão da família foi o primeiro contato que uma criança ou jovem teve com a finitude da vida em incontáveis casos. A curta vida do cão desfaz a ilusão de imortalidade que às vezes enfeitiça o homem acomodado. O cão é o lembrete permanente de que todos vamos morrer, e que ele apenas foi na frente, para abrir o caminho. Virá daí o mito de Cérbero, bem como inúmeros outros mitos que associam o cão à morte (Anúbis, etc.)? Faria sentido. O cão, nesse sentido, é o primeiro "membro da família" (e nem comecem com a narrativa farsesca de que considerar o cão como "quase da família" é coisa do "homem moderno") a abrir as portas da morte.
Todo mundo, certamente, já se perguntou do porquê da curta longevidade do cão e que propósito ele cumpre se sua vida dura tão pouco. Em um cosmo ordenado e harmonioso, em que todos os entes estão organizados conforme uma vontade divina, não é despropositado refletir sobre o "propósito" do cão vis-à-vis o homem.
As explicações meramente "funcionais" me parecem claramente insuficientes. Sim, sabemos que cães "guardam rebanho", "vigiam a casa" e "ajudam a caçar", mas essas utilidades representam simplesmente a expressão de um vínculo mais profundo.
Propedeuticamente, é interessante saber que os cães foram o primeiro animal domesticado pelo homem há 15-20 mil anos. Os primeiros passos dessa domesticação são desconhecidos, apesar de haver alguns bons palpites que apontam para uma relação de comensalidade que foi se tornando algo cada vez mais próximo.
Na verdade, o fato de que socialmente e eticamente os homens são mais semelhantes aos lobos do que aos chimpanzés indica que, provavelmente, o lobo foi tão domesticado quanto o homem foi socializado ao modo lupino. Certamente, a presença dos lobos deve ter ensinado aos homens no mínimo algumas táticas de caça, tal como o próprio lobo passou a servir como arma do homem em suas caçadas.
Essa mutualidade lobo-homem que jaz na aurora da domesticação que gerou o cão deve ter algum papel nos ritos e mitos de licantropia. O homem-lobo está não apenas invocando uma força totêmica que se manifesta como lobo, ele está também ativando uma "memória ancestral" de um tempo em que os homens se comportavam como lobos para caçar melhor - ou seja, viravam lobisomens.
A consagração disso aparece, por óbvio, no mito de fundação de Roma, no próprio festival romano da Lupercalia, e em outros mitos e eventos semelhantes comuns à Europa e à Eurásia.
Enfim, a partir dessa época (e estamos falando aqui do Pleistoceno) os cães passaram a fazer parte do quotidiano humano, como o primeiro animal domesticado/socializado. Imaginamos, inclusive, que o ato de dar um filhote de presente para um jovem não deve ser novidade do século XX. Considerando o tempo que Ulisses ficou ausente de Ítaca, por exemplo, bem como a idade aproximada de retorno, e a idade lendária do cão Argos (23-25 anos), ele deve tê-lo recebido de seu pai no início de sua idade adulta.
O que é certo, porém, é que entre gregos e romanos os cães eram onipresentes, o que se manteve na Idade Média e até tempos relativamente recentes.
A partir daí, penso ser possível comentar algumas coisas sobre os propósitos mais profundos do cão:
1) Ele ensina ao homem sobre a morte e a impermanência de todas as coisas. Ainda que a vida humana, historicamente, sempre tenha estado permeada pela morte, a realidade é que longe dos filmes, séries e livros, a vida humana era pacata a maior parte do tempo. A "expectativa de vida" estatística para o passado dá resultados baixos porque a mortalidade infantil era alta. Mas quem sobrevivia mais que alguns meses provavelmente só morreria velho.
Assim, ao longo da história, por toda parte, certamente a morte do cão da família foi o primeiro contato que uma criança ou jovem teve com a finitude da vida em incontáveis casos. A curta vida do cão desfaz a ilusão de imortalidade que às vezes enfeitiça o homem acomodado. O cão é o lembrete permanente de que todos vamos morrer, e que ele apenas foi na frente, para abrir o caminho. Virá daí o mito de Cérbero, bem como inúmeros outros mitos que associam o cão à morte (Anúbis, etc.)? Faria sentido. O cão, nesse sentido, é o primeiro "membro da família" (e nem comecem com a narrativa farsesca de que considerar o cão como "quase da família" é coisa do "homem moderno") a abrir as portas da morte.
Forwarded from Raphael Machado
2) Ele ensina ao homem a virtude da lealdade. De um modo geral, o homem aprende por imitação, por mimesis. É assim que ele absorve tanto as virtudes quanto os vícios, e ele o faz não apenas de outros homens, mas observando a natureza inanimada e os animais. Seria ingenuidade acreditar, portanto, dada a importância histórica do cão, que o homem não o observaria como exemplo de determinadas virtudes, a lealdade sendo a mais notória e clássica delas.
Quando o cão constrói um vínculo trata-se de um serviço que será prestado até a morte e pelo qual o cão arriscará a própria vida, sem calcular as consequências. A história já mencionada do cão Argos não está à toa na Odisseia (livro do qual - junto com a Ilíada - os gregos deduziam suas virtudes e sua ética). Ulisses passa 20 anos longe de casa, quando ele retorna, disfarçado, para recuperar o seu oikos ("lar"), Argos é o único que o reconhece imediatamente. Ulisses não pode esboçar reconhecimento sob pena de trair seu disfarce e passa direto. Argos, então, morre aos 25 anos, depois de passar 20 anos aguardando fielmente seu mestre voltar pra casa.
Uma história interessante aparece no clímax do Mahabharata indiano, quando o rei Yudhisthira e seus irmãos iniciam o caminho do Monte Meru rumo a Svarga, o Céu, após o fim de todas as suas atribulações e da Batalha de Kurukshetra. No início da jornada um cão faz amizade com Yudhisthira e começa a acompanhá-los. Ao longo da jornada longa e difícil, todos os irmãos e a esposa de Yudhisthira morrem, restando com ele apenas o cão. Ao final do percurso, o deus Indra convida Yudhisthira a adentrar os Céus, desde que ele abandone o cão. O rei se recusa, dizendo que, enquanto rei, não podia tratar com deslealdade um animal que havia sido tão leal a ele. Indra ameaça Yudhisthira com Naraka (o Inferno), mas o rei insiste na recusa, quando então o cão revela-se como Dharma (a Lei/Dever/Caminho), e ele então é recebido no Céu.
Também é conhecido o jogo de palavras que envolve o nome da Ordem Dominicana, uma das mais notórias e importantes ordens monásticas surgidas na Idade Média. "Domini canes", ou "cães do Senhor". Uma associação fácil de fazer por motivos fonéticos, mas que historicamente também foi recordado como uma alusão à lealdade dos monges dominicanos.
Para o homem, portanto, o cão sempre foi sinônimo de lealdade, e quando o homem pensa em lealdade, ele quase sempre a retrata ou interpreta sob a forma do cão.
3) Ele ensina a importância de distinguir amigos de inimigos (e, assim, ensina filosofia). Uma das passagens mais famosas da "República" de Platão se dá quando Sócrates, no Livro II, começa a convencer seus interlocutores de que o cão é, na verdade, um filósofo. O critério usado por Sócrates é muito simples: o cão é o único ser que, de forma mais imediata e perfeita, distingue amigo e inimigo por um ato direto de conhecimento/ignorância.
Segundo Sócrates, portanto, os filósofos devem se espelhar nos cães, porque uma de suas tarefas primárias seria precisamente a de aprender a distinguir o próprio do impróprio, o adequado do inadequado, o amistoso do hostil, o "nós" do "eles", no que concerne todas as coisas e interesses da pólis. E ele deve fazê-lo a partir do conhecimento.
O Guardião da República, assim, é comparado ao cão no que concerne as virtudes que se espera dele, e que vão da sabedoria e do amor pelo conhecimento à preferência pelo que é "próprio/familiar", passando pela lealdade ao que é "seu".
Em certo sentido, ainda, poderíamos acrescentar que nos termos pelos quais o cão é descrito pelo Sócrates platônico, ele não é apenas o animal filosófico por excelência, sendo também o animal político fundamental. Em alguma medida, portanto, o cão - com a sua desconfiança e hostilidade em relação ao desconhecido - deve ter desempenhado algum papel no desenvolvimento de um primeiro instinto propriamente político (em sentido schmittiano) no homem primitivo.
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Quando o cão constrói um vínculo trata-se de um serviço que será prestado até a morte e pelo qual o cão arriscará a própria vida, sem calcular as consequências. A história já mencionada do cão Argos não está à toa na Odisseia (livro do qual - junto com a Ilíada - os gregos deduziam suas virtudes e sua ética). Ulisses passa 20 anos longe de casa, quando ele retorna, disfarçado, para recuperar o seu oikos ("lar"), Argos é o único que o reconhece imediatamente. Ulisses não pode esboçar reconhecimento sob pena de trair seu disfarce e passa direto. Argos, então, morre aos 25 anos, depois de passar 20 anos aguardando fielmente seu mestre voltar pra casa.
Uma história interessante aparece no clímax do Mahabharata indiano, quando o rei Yudhisthira e seus irmãos iniciam o caminho do Monte Meru rumo a Svarga, o Céu, após o fim de todas as suas atribulações e da Batalha de Kurukshetra. No início da jornada um cão faz amizade com Yudhisthira e começa a acompanhá-los. Ao longo da jornada longa e difícil, todos os irmãos e a esposa de Yudhisthira morrem, restando com ele apenas o cão. Ao final do percurso, o deus Indra convida Yudhisthira a adentrar os Céus, desde que ele abandone o cão. O rei se recusa, dizendo que, enquanto rei, não podia tratar com deslealdade um animal que havia sido tão leal a ele. Indra ameaça Yudhisthira com Naraka (o Inferno), mas o rei insiste na recusa, quando então o cão revela-se como Dharma (a Lei/Dever/Caminho), e ele então é recebido no Céu.
Também é conhecido o jogo de palavras que envolve o nome da Ordem Dominicana, uma das mais notórias e importantes ordens monásticas surgidas na Idade Média. "Domini canes", ou "cães do Senhor". Uma associação fácil de fazer por motivos fonéticos, mas que historicamente também foi recordado como uma alusão à lealdade dos monges dominicanos.
Para o homem, portanto, o cão sempre foi sinônimo de lealdade, e quando o homem pensa em lealdade, ele quase sempre a retrata ou interpreta sob a forma do cão.
3) Ele ensina a importância de distinguir amigos de inimigos (e, assim, ensina filosofia). Uma das passagens mais famosas da "República" de Platão se dá quando Sócrates, no Livro II, começa a convencer seus interlocutores de que o cão é, na verdade, um filósofo. O critério usado por Sócrates é muito simples: o cão é o único ser que, de forma mais imediata e perfeita, distingue amigo e inimigo por um ato direto de conhecimento/ignorância.
Segundo Sócrates, portanto, os filósofos devem se espelhar nos cães, porque uma de suas tarefas primárias seria precisamente a de aprender a distinguir o próprio do impróprio, o adequado do inadequado, o amistoso do hostil, o "nós" do "eles", no que concerne todas as coisas e interesses da pólis. E ele deve fazê-lo a partir do conhecimento.
O Guardião da República, assim, é comparado ao cão no que concerne as virtudes que se espera dele, e que vão da sabedoria e do amor pelo conhecimento à preferência pelo que é "próprio/familiar", passando pela lealdade ao que é "seu".
Em certo sentido, ainda, poderíamos acrescentar que nos termos pelos quais o cão é descrito pelo Sócrates platônico, ele não é apenas o animal filosófico por excelência, sendo também o animal político fundamental. Em alguma medida, portanto, o cão - com a sua desconfiança e hostilidade em relação ao desconhecido - deve ter desempenhado algum papel no desenvolvimento de um primeiro instinto propriamente político (em sentido schmittiano) no homem primitivo.
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Forwarded from Raphael Machado
Nesses 3 conhecimentos transmitidos pelo cão ao homem, em conformidade com o mito, a filosofia e a história, quais sejam: 1) A apresentação da morte; 2) O ensino da lealdade; 3) O ensino político-filosófico - é onde podemos encontrar o propósito fundamental do cão em seu longo percurso junto ao homem.
Semana passado estivemos ao vivo com Rodrigo Pedroso para discutir sobre o Conclave papal, o futuro da Igreja Católica, e tudo mais que envolve este tema.
Não deixem de assistir!
https://www.youtube.com/watch?v=80kp-YYNbeE
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YouTube
Conclave: O Futuro da Igreja Católica | conv. Rodrigo Pedroso | Estado-Maior #104
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Forwarded from Voz da Nova Resistência
🇧🇷🤝🇷🇺 A Nova Resistência tem orgulho de anunciar a reabertura do curso virtual de russo, em convênio com a Universidade Federal do Sul (de Rostov) e a Fundação Russkiy Mir.
Trata-se de um curso formal que garante proficiência e fornece certificado de conclusão após a realização das provas ao término de cada nível.
O preço é bastante acessível e as aulas começam no final de maio; mas as vagas são limitadas.
Façam sua inscrição: https://sites.google.com/view/cursos-de-russo
Trata-se de um curso formal que garante proficiência e fornece certificado de conclusão após a realização das provas ao término de cada nível.
O preço é bastante acessível e as aulas começam no final de maio; mas as vagas são limitadas.
Façam sua inscrição: https://sites.google.com/view/cursos-de-russo
Forwarded from Raphael Machado
Os Nacionalistas triunfam na Romênia (por enquanto)
A saga da democracia na Romênia rendeu mais alguns desdobramentos com a vitória do nacionalista George Simion no 1º turno, com quase 41% dos votos. Ele enfrentará Nicusor Dan (que ficou com 20% dos votos) no 2º turno, em 15 dias.
Ou não.
Porque a "democracia" na Romênia tem sido pouco democrática nos últimos meses.
Como todos sabem, já houve eleições presidenciais na Romênia no final de 2024, em novembro. Por ocasião daquelas eleições, o nacionalista Calin Georgescu ficou em 1º lugar, com aproximadamente 23% dos votos. Para que se entenda o impacto disso, ele não aparecia nem entre os 5 mais bem posicionados nas pesquisas de opinião.
Dias após o resultado, porém, a Suprema Corte da Romênia cancelou o resultado das eleições, sob a alegação de "interferência estrangeira", o que ninguém conseguiu provar. Aplicando, na prática, um golpe de Estado, estendeu-se o mandato do presidente cessante Klaus Iohannis e se prometeu novas eleições "eventualmente".
Nas semanas seguintes, diante de protestos massivos, o aparato repressor prendeu inúmeros militantes nacionalistas, inclusivo com invasões a domicílio sem mandado para isso. Ademais, Calin Georgescu foi preso e, depois, declarado inelegível.
O "crime" real de Georgescu é que ele prometia realinhar a Romênia geopoliticamente para longe do Ocidente e para mais perto do projeto multipolar, se colocando também em defesa dos valores tradicionais romenos e contra todo o arcabouço de pautas do liberalismo progressista e pós-moderno.
O tiro, porém, parece ter saído pela culatra. Apesar da pressão, George Simion fez uma campanha inteligente prometendo herdar a plataforma de Georgescu e, inclusive, incluí-lo em seu governo - talvez até mesmo como primeiro-ministro. O resultado superou as expectativas, porque ele conseguiu ir além da soma de votos que ambos tiveram nas eleições anteriores. Sinal de que o povo romeno não gostou da transformação de sua democracia em uma farsa.
A geografia eleitoral dessas eleições segue um padrão interessante, mas típico. Simion ganhou em praticamente todas as regiões do país, excetuando as de forte presença tradicional húngara, como a Transilvânia, e na capital, Bucareste, em que ganhou o seu rival Dan, que é atualmente prefeito da cidade. É a típica lógica da oposição entre a Capital cosmopolita e a Pátria profunda que vemos, por exemplo, na França e em mil outros lugares.
Qualquer previsão para o 2º turno, porém, é perda de tempo. Melhor deixar para analisar as possíveis consequências dessas eleições de forma mais profunda em 15 dias, já que, como tivemos oportunidade de ver, a Juristocracia romena não vê problemas em violar o princípio democrático em defesa dos valores liberais.
A saga da democracia na Romênia rendeu mais alguns desdobramentos com a vitória do nacionalista George Simion no 1º turno, com quase 41% dos votos. Ele enfrentará Nicusor Dan (que ficou com 20% dos votos) no 2º turno, em 15 dias.
Ou não.
Porque a "democracia" na Romênia tem sido pouco democrática nos últimos meses.
Como todos sabem, já houve eleições presidenciais na Romênia no final de 2024, em novembro. Por ocasião daquelas eleições, o nacionalista Calin Georgescu ficou em 1º lugar, com aproximadamente 23% dos votos. Para que se entenda o impacto disso, ele não aparecia nem entre os 5 mais bem posicionados nas pesquisas de opinião.
Dias após o resultado, porém, a Suprema Corte da Romênia cancelou o resultado das eleições, sob a alegação de "interferência estrangeira", o que ninguém conseguiu provar. Aplicando, na prática, um golpe de Estado, estendeu-se o mandato do presidente cessante Klaus Iohannis e se prometeu novas eleições "eventualmente".
Nas semanas seguintes, diante de protestos massivos, o aparato repressor prendeu inúmeros militantes nacionalistas, inclusivo com invasões a domicílio sem mandado para isso. Ademais, Calin Georgescu foi preso e, depois, declarado inelegível.
O "crime" real de Georgescu é que ele prometia realinhar a Romênia geopoliticamente para longe do Ocidente e para mais perto do projeto multipolar, se colocando também em defesa dos valores tradicionais romenos e contra todo o arcabouço de pautas do liberalismo progressista e pós-moderno.
O tiro, porém, parece ter saído pela culatra. Apesar da pressão, George Simion fez uma campanha inteligente prometendo herdar a plataforma de Georgescu e, inclusive, incluí-lo em seu governo - talvez até mesmo como primeiro-ministro. O resultado superou as expectativas, porque ele conseguiu ir além da soma de votos que ambos tiveram nas eleições anteriores. Sinal de que o povo romeno não gostou da transformação de sua democracia em uma farsa.
A geografia eleitoral dessas eleições segue um padrão interessante, mas típico. Simion ganhou em praticamente todas as regiões do país, excetuando as de forte presença tradicional húngara, como a Transilvânia, e na capital, Bucareste, em que ganhou o seu rival Dan, que é atualmente prefeito da cidade. É a típica lógica da oposição entre a Capital cosmopolita e a Pátria profunda que vemos, por exemplo, na França e em mil outros lugares.
Qualquer previsão para o 2º turno, porém, é perda de tempo. Melhor deixar para analisar as possíveis consequências dessas eleições de forma mais profunda em 15 dias, já que, como tivemos oportunidade de ver, a Juristocracia romena não vê problemas em violar o princípio democrático em defesa dos valores liberais.
Da frieza burocrática denunciada por Simone Weil à ameaça concreta dos algoritmos legisladores: como a inteligência artificial está se tornando componente integral dos sistemas de governo, transformando o Estado numa verdadeira máquina. O texto analisa os riscos da automação das funções legislativas e como esse processo apenas intensifica o controle oligárquico, contrastando-o com formas tradicionais de governo onde a misericórdia humana temperava a rigidez da lei. Walt Garlington examina este fenômeno e suas implicações para a liberdade humana num mundo cada vez mais tecnológico.
https://novaresistencia.org/2025/04/28/ia-e-o-estado-moderno-inumano/
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Nova Resistência
IA e o Estado Moderno Inumano | Nova Resistência
Da frieza burocrática denunciada por Simone Weil à ameaça concreta dos algoritmos legisladores: como a inteligência artificial está se tornando componente integral dos sistemas de governo, transformando o Estado numa verdadeira máquina. O texto analisa os…
O amor pelo diferente, pelo estranho, pelo estrangeiro é uma das grandes marcas da decadência civilizacional.
https://novaresistencia.org/2025/04/28/xenofilia-como-suicidio-civilizacional/
https://novaresistencia.org/2025/04/28/xenofilia-como-suicidio-civilizacional/
Nova Resistência
Xenofilia como Suicídio Civilizacional | Nova Resistência
O amor pelo diferente, pelo estranho, pelo estrangeiro é uma das grandes marcas da decadência civilizacional. Xenofilia é mais do que curiosidade ou admiração respeitosa pelo estrangeiro. É uma doença psicológica que aflige civilizações terminais. Funciona…
Forwarded from Lucas Leiroz (Лукас Лейрос)
🌍A Rússia acaba de lançar um dos desafios de arquitetura e urbanismo mais empolgantes da atualidade: o concurso internacional para o Plano Diretor do Território Federal Sirius, iniciativa estratégica que une ciência de ponta, inovação, educação e soberania tecnológica.
Localizado no litoral do Mar Negro, onde ocorreram os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, Sirius é um polo de excelência criado por decreto presidencial. Abriga uma universidade tecnológica, centros de pesquisa, infraestrutura olímpica reaproveitada e um parque nacional que une biodiversidade e clima — tudo voltado à formação integral de talentos do mundo inteiro.
🇷🇺 Para os países dos BRICS, especialmente o Brasil, essa é uma oportunidade concreta de cooperação real em ciência, educação e inovação. A participação de empresas e instituições estrangeiras será feita em parceria com entidades russas, o que torna o concurso uma verdadeira ponte entre as nações do Sul Global.
O plano diretor cobrirá dois grandes distritos (de 19,4 e 23,1 hectares), com foco em medicina avançada, energias limpas, tecnologias de transporte inteligente, processamento de dados e preservação ambiental com carbono zero. Tudo isso articulado em um modelo urbano novo, sustentável e interconectado.
💡 Ideias ousadas são bem-vindas. Arquitetos, urbanistas, institutos e centros de inovação do mundo todo podem participar — os vencedores dividirão um fundo de 22 milhões de rublos (mais de um milhão e meio de reais) e terão a chance de implementar seus projetos na Rússia.
🗓️ As inscrições vão até 30 de maio de 2025 no site oficial:
🔗 http://en.siriusmasterplan.com
📢 Participar do desenvolvimento de Sirius é mais do que contribuir com um projeto urbano — é apostar no novo mundo multipolar que está nascendo.
#Sirius #BRICS #Rússia #Brasil #Inovação #Geopolítica #Educação #Ciência #Arquitetura #Urbanismo #Multipolaridade
No link abaixo é possível acessar um álbum de fotos inspiradoras do Território Federal de Sirius, localizado em Sochi, entre o Mar Negro e as montanhas do Cáucaso russo.
https://disk.yandex.ru/d/xy4l3fpgCplYVA
Localizado no litoral do Mar Negro, onde ocorreram os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, Sirius é um polo de excelência criado por decreto presidencial. Abriga uma universidade tecnológica, centros de pesquisa, infraestrutura olímpica reaproveitada e um parque nacional que une biodiversidade e clima — tudo voltado à formação integral de talentos do mundo inteiro.
🇷🇺 Para os países dos BRICS, especialmente o Brasil, essa é uma oportunidade concreta de cooperação real em ciência, educação e inovação. A participação de empresas e instituições estrangeiras será feita em parceria com entidades russas, o que torna o concurso uma verdadeira ponte entre as nações do Sul Global.
O plano diretor cobrirá dois grandes distritos (de 19,4 e 23,1 hectares), com foco em medicina avançada, energias limpas, tecnologias de transporte inteligente, processamento de dados e preservação ambiental com carbono zero. Tudo isso articulado em um modelo urbano novo, sustentável e interconectado.
💡 Ideias ousadas são bem-vindas. Arquitetos, urbanistas, institutos e centros de inovação do mundo todo podem participar — os vencedores dividirão um fundo de 22 milhões de rublos (mais de um milhão e meio de reais) e terão a chance de implementar seus projetos na Rússia.
🗓️ As inscrições vão até 30 de maio de 2025 no site oficial:
🔗 http://en.siriusmasterplan.com
📢 Participar do desenvolvimento de Sirius é mais do que contribuir com um projeto urbano — é apostar no novo mundo multipolar que está nascendo.
#Sirius #BRICS #Rússia #Brasil #Inovação #Geopolítica #Educação #Ciência #Arquitetura #Urbanismo #Multipolaridade
No link abaixo é possível acessar um álbum de fotos inspiradoras do Território Federal de Sirius, localizado em Sochi, entre o Mar Negro e as montanhas do Cáucaso russo.
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Siriusmasterplan
Открытый международный конкурс на мастер-план кварталов «Сириус»
Forwarded from Raphael Machado
Toda grande devastação, toda grande destruição, todo caos, é oportunidade para a construção de uma nova Ordem (que seja, quem sabe, reflexo da sempiterna Ordem das ordens).
Piores que a morte e a destruição são a inércia e a estagnação.
Piores que a morte e a destruição são a inércia e a estagnação.
Apesar dos avanços ideológicos do putinismo, os sabotadores liberais permanecem em posições de influência e seguem à espreita para reverter esses avanços ao fim da operação militar especial.
https://novaresistencia.org/2025/04/28/os-sabotadores-liberais-da-russia/
https://novaresistencia.org/2025/04/28/os-sabotadores-liberais-da-russia/
Nova Resistência
Os Sabotadores Liberais da Rússia | Nova Resistência
Apesar dos avanços ideológicos do putinismo, os sabotadores liberais permanecem em posições de influência e seguem à espreita para reverter esses avanços ao fim da operação militar especial. "Temos um grupo influente de formadores de opinião que acreditam…
"Como se fabricam, eu pergunto a vocês, os ídolos que habitam todos os sonhos das gerações de hoje? Como que o menor dos cretinos, o pato mais repelente, a donzela mais pavorosa, podem se transformar em deuses? ...deusas? Colher mais almas em um dia do que Jesus Cristo em dois mil anos?... Publicidade! O que pede toda a multidão moderna? Ela pede para ficar de joelhos diante do ouro e diante da merda! Ela tem o gosto pelo falso, pelo fraudulento, por merda recheada, como nenhuma multidão jamais teve nas piores antiguidades... Então, nós a alimentamos, ela morre... E quanto mais nulo, mais insignificante é o ídolo escolhido no começo, mais chances ele tem de triunfar nos corações das multidões... melhor a publicidade se apega à sua nulidade, penetra, engendra toda idolatria... São as superfícies mais lisas que pegam melhor a tinta".
- Louis-Ferdinand Céline
- Louis-Ferdinand Céline
Forwarded from Raphael Machado
Estou vendo esse caso do cara que, parece, foi estraçalhado no metrô de São Paulo, e concordo com as "críticas sociais fodas" sobre "investimento no metrô", sobre "a exploração capitalista que leva o trabalhador a se apressar" e por aí vai.
Tudo isso é muito inteligente.
Mas...
...não há investimento ou engenharia social que anulem a imbecilidade ou inépcia humanas. Nunca viveremos em um mundo seguro e não há recurso contra a imprudência.
Pelos deuses, sinceramente, às vezes tenho a impressão de que as pessoas têm uma expectativa de um mundo que mais parece com aquelas bolhas médicas que certos doentes particularmente frágeis usam.
Querem que tudo seja higienizado, sanitizado, tornado seguro, sem pontas, sem arestas, com dezessete mil avisos de "cuidado", "disclaimers", "alertas". As pessoas, infelizmente, morrem. Não vivemos no mundo dos Ursinhos Carinhosos, e uma bateria de vídeos do "Darwin Awards" talvez curasse um pouco dessa "inocência" e desse anseio por um sistema político-legislativo que imponha conforto e segurança por toda parte.
Facas sem ponta, máquinas de lavar com orientação de que você não deve entrar nela, emojis de arma do Whatsapp que viram arminha de brinquedo, aliás, o fim das armas de brinquedo de espoleta, "avisos" sobre filmes violentos, "avisos" sobre jogos de videogame violentos, obrigação de usar capacete em moto, mil procedimentos burocráticos de segurança em todas as empresas. Aparentemente, é necessário até ensinar pessoas supostamente normais a usar o elevador.
Vocês realmente querem viver em um mundo castrado que mais parece ter sido planificado por babás, avós e funcionários de RH?
Tudo isso me enoja.
Tudo isso é muito inteligente.
Mas...
...não há investimento ou engenharia social que anulem a imbecilidade ou inépcia humanas. Nunca viveremos em um mundo seguro e não há recurso contra a imprudência.
Pelos deuses, sinceramente, às vezes tenho a impressão de que as pessoas têm uma expectativa de um mundo que mais parece com aquelas bolhas médicas que certos doentes particularmente frágeis usam.
Querem que tudo seja higienizado, sanitizado, tornado seguro, sem pontas, sem arestas, com dezessete mil avisos de "cuidado", "disclaimers", "alertas". As pessoas, infelizmente, morrem. Não vivemos no mundo dos Ursinhos Carinhosos, e uma bateria de vídeos do "Darwin Awards" talvez curasse um pouco dessa "inocência" e desse anseio por um sistema político-legislativo que imponha conforto e segurança por toda parte.
Facas sem ponta, máquinas de lavar com orientação de que você não deve entrar nela, emojis de arma do Whatsapp que viram arminha de brinquedo, aliás, o fim das armas de brinquedo de espoleta, "avisos" sobre filmes violentos, "avisos" sobre jogos de videogame violentos, obrigação de usar capacete em moto, mil procedimentos burocráticos de segurança em todas as empresas. Aparentemente, é necessário até ensinar pessoas supostamente normais a usar o elevador.
Vocês realmente querem viver em um mundo castrado que mais parece ter sido planificado por babás, avós e funcionários de RH?
Tudo isso me enoja.
Forwarded from Lucas Leiroz (Лукас Лейрос)
International volunteers help rebuild Orthodox monastery destroyed by US missiles in Donbass
https://infobrics.org/post/44084
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BRICS
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Young Brazilian volunteers are joining efforts with Russian partners to restore religious sites targeted by Kiev.