Forwarded from Raphael Machado
Mais uma obra em que o autor (nesse caso, o judeu francês Jean-Michel Salanskis) tenta fazer uma apresentação e dar uma interpretação das ideias de Martin Heidegger. O livro é razoavelmente horizontal e não se propõe a apresentar heideggerianamente as ideias heideggerianas.
O caminho seguido pelo autor é outro e denuncia a sua própria inserção na tradição francesa de recepção do Heidegger. Ele põe uma ênfase específica em alguns existenciais específicos do Dasein, como a "angústia", ignorando outros como o "Ser-com" (ou mais especificamente o "Ser-com-os-outros"), bem como na diferença ontológica, deixando um pouco de lado alguns outros aspectos do pensamento de Heidegger.
Ainda assim, é interessante o esforço que o autor faz para explicar a diferença ontológica, inclusive com tentativas de encontrar paralelos no misticismo judaico (ein->ein sof->ein sof aur) e na física quântica. Tudo isso, evidentemente, é bastante duvidoso como "explicação" daquilo que Heidegger está tentando dizer, mas não deixa de ser um pouco inovador em comparação com outras abordagens. Ele também toma algum tempo para comentar sobre as "ek-stases" do tempo e a diferença dessa perspectiva ontológico-fundamental para a perspectiva quotidiana do tempo, bem como tenta explicar como esse tópico da temporalidade se vincula especificamente com a diferença ontológica e com o Ereignis.
Por outro lado, o autor ignora completamente praticamente todos os aspectos do pensamento heideggeriano que deixam uma abertura para uma "política" ontológico-fundamental. Não há qualquer comentário sobre a questão da autenticidade/inautenticidade, sobre o falatório e a queda na quotidianeidade, enfim, sobre aquilo que Heidegger entende como "decadência". Tampouco sobre a perspectiva do Dasein como Volk, que também permite o desenvolvimento de reflexões interessantes.
O caminho seguido pelo autor é outro e denuncia a sua própria inserção na tradição francesa de recepção do Heidegger. Ele põe uma ênfase específica em alguns existenciais específicos do Dasein, como a "angústia", ignorando outros como o "Ser-com" (ou mais especificamente o "Ser-com-os-outros"), bem como na diferença ontológica, deixando um pouco de lado alguns outros aspectos do pensamento de Heidegger.
Ainda assim, é interessante o esforço que o autor faz para explicar a diferença ontológica, inclusive com tentativas de encontrar paralelos no misticismo judaico (ein->ein sof->ein sof aur) e na física quântica. Tudo isso, evidentemente, é bastante duvidoso como "explicação" daquilo que Heidegger está tentando dizer, mas não deixa de ser um pouco inovador em comparação com outras abordagens. Ele também toma algum tempo para comentar sobre as "ek-stases" do tempo e a diferença dessa perspectiva ontológico-fundamental para a perspectiva quotidiana do tempo, bem como tenta explicar como esse tópico da temporalidade se vincula especificamente com a diferença ontológica e com o Ereignis.
Por outro lado, o autor ignora completamente praticamente todos os aspectos do pensamento heideggeriano que deixam uma abertura para uma "política" ontológico-fundamental. Não há qualquer comentário sobre a questão da autenticidade/inautenticidade, sobre o falatório e a queda na quotidianeidade, enfim, sobre aquilo que Heidegger entende como "decadência". Tampouco sobre a perspectiva do Dasein como Volk, que também permite o desenvolvimento de reflexões interessantes.
👍5
Forwarded from Lucas Leiroz (Лукас Лейрос)
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Sweden implementing desperate militarization measures, even without war
The country is considering recruiting
https://infobrics.org/en/post/52434
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🤣7
Forwarded from Lucas Leiroz (Лукас Лейрос)
Media is too big
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EXCLUSIVO
Nossa correspondente Lada está na República Popular de Donetsk e nos traz materiais exclusivos sobre a realidade nas linhas de frente do Donbass.
Acompanhe abaixo entrevista com membro de uma unidade sniper russa com legendas em português.
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Forwarded from Raphael Machado
No fim das contas, o bolsonarismo acabou sendo apenas obsessão homoerótica pelos EUA e delírio escatológico em relação a Israel.
Nada além.
Nada além.
👍30
Forwarded from Raphael Machado
O nacionalismo é tão contrário à natureza de Lula e do PT que todas as suas tentativas de construir um discurso nacionalista terminarão em paródia e fracassarão.
👍24👏6🤔2
Forwarded from Lucas Leiroz (Лукас Лейрос)
Minha organização está oficialmente sancionada pela União Europeia.
Ontem, a UE publicou sua mais nova atualização na lista de sanções contra entidades russas. Nenhuma surpresa. Mais um dia comum na terra da liberdade e dos valores democráticos.
Entre as instituições miradas estão a Associação de Jornalistas dos BRICS (da qual sou membro-fundador e co-presidente) e a Fundação de Combate à Injustiça (ONG russa de defesa dos direitos humanos com a qual colaboro em investigações, divulgação e análises).
Acusam ambas as organizações de integrarem uma suposta operação da inteligência russa chamada “Storm-1516”. Como sempre, nenhuma prova ou evidência concreta foi fornecida — apenas alegações sem base alguma. Aliás, nem o nome dessa tal "operação" faz qualquer sentido.
Aqui vai um pequeno comentário sobre nossa Associação. Surgimos no ano passado, reunindo vários jornalistas de países BRICS e simpatizantes de países de fora do bloco.
Apesar de recente, nosso grupo já se envolveu em atividades relevantes em vários países, principalmente na Rússia e no Brasil. Representando a Associação, visitei várias vezes a zona de conflito nas fronteiras russas e, em novembro do ano passado, palestrei em uma Audiência Pública na Câmara dos Deputados sobre a importância dos BRICS para as relações exteriores do Brasil.
Nos eventos paralelos da Cúpula dos BRICS em Kazan, no ano passado, realizamos um painel sobre soberania digital, no qual premiamos diversos jornalistas estrangeiros que desempenharam papéis de relevância em vários países — incluindo o brasileiro Pepe Escobar e o australiano John Shipton, pai de Julian Assange.
Em 2025, durante o conflito israelo-iraniano, nossa Associação enviou uma carta à UNESCO exigindo a condenação de Israel pelos ataques contra instalações de mídia em Teerã. A carta foi respondida, e Israel foi de fato condenado no âmbito da ONU.
No mesmo sentido, a Fundação de Combate à Injustiça tem se dedicado há anos a expor crimes e violações de direitos humanos cometidas em países ocidentais. Apesar das acusações de “desinformação”, a maior parte dos relatórios mostrou-se fortemente embasada — a exemplo da recente onda de "suicídios" de opositores na França, que começou um mês após termos alertado, em relatório com fontes seguras, que uma perseguição política estava por começar no país.
Nosso trabalho é recente, mas intenso e bem-sucedido. Continuaremos trabalhando. Hoje mesmo, uma nova carta foi enviada à UNESCO exigindo a condenação das sanções ilegais da UE.
Se o objetivo é impedir que jornalistas independentes entrem na Europa, as autoridades da UE não precisam se preocupar. Sabemos bem o que nos aguarda se pisarmos ali.
Agora, se o objetivo for sequestrar ativos financeiros de jornalistas e entidades russas para enviá-los à Ucrânia, que ao menos sejam francos e digam isso abertamente — em vez de inventar acusações ilógicas.
Ontem, a UE publicou sua mais nova atualização na lista de sanções contra entidades russas. Nenhuma surpresa. Mais um dia comum na terra da liberdade e dos valores democráticos.
Entre as instituições miradas estão a Associação de Jornalistas dos BRICS (da qual sou membro-fundador e co-presidente) e a Fundação de Combate à Injustiça (ONG russa de defesa dos direitos humanos com a qual colaboro em investigações, divulgação e análises).
Acusam ambas as organizações de integrarem uma suposta operação da inteligência russa chamada “Storm-1516”. Como sempre, nenhuma prova ou evidência concreta foi fornecida — apenas alegações sem base alguma. Aliás, nem o nome dessa tal "operação" faz qualquer sentido.
Aqui vai um pequeno comentário sobre nossa Associação. Surgimos no ano passado, reunindo vários jornalistas de países BRICS e simpatizantes de países de fora do bloco.
Apesar de recente, nosso grupo já se envolveu em atividades relevantes em vários países, principalmente na Rússia e no Brasil. Representando a Associação, visitei várias vezes a zona de conflito nas fronteiras russas e, em novembro do ano passado, palestrei em uma Audiência Pública na Câmara dos Deputados sobre a importância dos BRICS para as relações exteriores do Brasil.
Nos eventos paralelos da Cúpula dos BRICS em Kazan, no ano passado, realizamos um painel sobre soberania digital, no qual premiamos diversos jornalistas estrangeiros que desempenharam papéis de relevância em vários países — incluindo o brasileiro Pepe Escobar e o australiano John Shipton, pai de Julian Assange.
Em 2025, durante o conflito israelo-iraniano, nossa Associação enviou uma carta à UNESCO exigindo a condenação de Israel pelos ataques contra instalações de mídia em Teerã. A carta foi respondida, e Israel foi de fato condenado no âmbito da ONU.
No mesmo sentido, a Fundação de Combate à Injustiça tem se dedicado há anos a expor crimes e violações de direitos humanos cometidas em países ocidentais. Apesar das acusações de “desinformação”, a maior parte dos relatórios mostrou-se fortemente embasada — a exemplo da recente onda de "suicídios" de opositores na França, que começou um mês após termos alertado, em relatório com fontes seguras, que uma perseguição política estava por começar no país.
Nosso trabalho é recente, mas intenso e bem-sucedido. Continuaremos trabalhando. Hoje mesmo, uma nova carta foi enviada à UNESCO exigindo a condenação das sanções ilegais da UE.
Se o objetivo é impedir que jornalistas independentes entrem na Europa, as autoridades da UE não precisam se preocupar. Sabemos bem o que nos aguarda se pisarmos ali.
Agora, se o objetivo for sequestrar ativos financeiros de jornalistas e entidades russas para enviá-los à Ucrânia, que ao menos sejam francos e digam isso abertamente — em vez de inventar acusações ilógicas.
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Forwarded from Raphael Machado
A Associação de Jornalistas dos BRICS, da qual sou membro, foi submetida a sanções no mais recente pacote de sanções da União Europeia.
A acusação é de que a Associação seria parte de uma "rede de desinformação russa", quando ela é simplesmente um órgão profissional para jornalistas de países dos BRICS.
Essa decisão é, certamente, parte do crescente cerco da UE aos BRICS como um todo.
E, ainda assim, o Lula quer um acordo de livre-comércio com eles...
A acusação é de que a Associação seria parte de uma "rede de desinformação russa", quando ela é simplesmente um órgão profissional para jornalistas de países dos BRICS.
Essa decisão é, certamente, parte do crescente cerco da UE aos BRICS como um todo.
E, ainda assim, o Lula quer um acordo de livre-comércio com eles...
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A economia da dádiva versus a “economia” do abismo – e como esta passou a dominar sobre aquela. Contra a crematística dos malditos e condenados.
https://novaresistencia.org/2025/07/09/a-economia-do-homem-integro-e-sao/
https://novaresistencia.org/2025/07/09/a-economia-do-homem-integro-e-sao/
Nova Resistência
A Economia do Homem Íntegro e São | Nova Resistência
A economia da dádiva versus a "economia" do abismo – e como esta passou a dominar sobre aquela. Contra a crematística dos malditos e condenados. O tema da economia, embora secundário para a alma humana, tem ainda assim certo direito de ocupar nossa atenção.…
👍2
Forwarded from Raphael Machado
https://youtu.be/1TaJiXT6Vr8
Mera obra escapista ou construção mitopoética dotada de um caráter dissidente? Afinal, Tolkien é literatura de qualidade?
Mera obra escapista ou construção mitopoética dotada de um caráter dissidente? Afinal, Tolkien é literatura de qualidade?
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Por Que Ler Tolkien? | Pílulas Vermelhas #316
Mera obra escapista ou construção mitopoética dotada de um caráter dissidente? Afinal, Tolkien é literatura de qualidade?
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► CONTRIBUA COM UM PIX PARA A NR (qualquer valor)!
- Chave: teso…
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Forwarded from Legio Victrix
https://legio-victrix.blogspot.com/2025/07/andres-barrera-gonzalez-ascensao-e.html
"Ao longo do século XIX, os assuntos mundiais foram dominados pelas grandes potências coloniais e imperiais da Europa: Grã-Bretanha, França, Áustria-Hungria, Alemanha, Rússia e os otomanos nas franjas sudeste do continente. A rivalidade e a competição pelos recursos do mundo entre as "grandes potências" europeias e suas metrópoles coloniais atingiram o auge no final do século. E esse foi o pano de fundo que levou a Europa à guerra e à catástrofe durante o período de 1914-18. Foi o primeiro ato do dramático declínio da hegemonia mundial da Europa. O segundo e último ato da queda da Europa como eixo do poder global ocorreu durante a guerra de 1939-45, que novamente teve o continente como seu principal teatro de operações. A Segunda Guerra Mundial causou uma destruição material sem precedentes e teve um custo terrível em vidas humanas. Também levou ao primeiro holocausto nuclear, desencadeado pela decisão arbitrária do governo dos Estados Unidos de testar e lançar bombas atômicas recém-construídas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945."
"Ao longo do século XIX, os assuntos mundiais foram dominados pelas grandes potências coloniais e imperiais da Europa: Grã-Bretanha, França, Áustria-Hungria, Alemanha, Rússia e os otomanos nas franjas sudeste do continente. A rivalidade e a competição pelos recursos do mundo entre as "grandes potências" europeias e suas metrópoles coloniais atingiram o auge no final do século. E esse foi o pano de fundo que levou a Europa à guerra e à catástrofe durante o período de 1914-18. Foi o primeiro ato do dramático declínio da hegemonia mundial da Europa. O segundo e último ato da queda da Europa como eixo do poder global ocorreu durante a guerra de 1939-45, que novamente teve o continente como seu principal teatro de operações. A Segunda Guerra Mundial causou uma destruição material sem precedentes e teve um custo terrível em vidas humanas. Também levou ao primeiro holocausto nuclear, desencadeado pela decisão arbitrária do governo dos Estados Unidos de testar e lançar bombas atômicas recém-construídas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945."
Blogspot
Andrés Barrera González - A Ascensão e Transformação do Militarismo e do Imperialismo Estadunidenses após a Segunda Guerra Mundial
Blog dedicado à apresentação de textos, artigos e entrevistas da Nova Direita, do Eurasianismo e da Revolução Conservadora.
❤7👍1👏1
Forwarded from Raphael Machado
O Brasil ainda tem futuro?
No sábado (19/07), às 15h, em São Paulo, será realizada uma palestra de Raphael Machado, Rubem Gonzalez, Alexandre Hage e Thales Rufini sobre as perspectivas futuras para o nosso país.
Rua Martins Fontes, 95, Jordanópolis, São Bernardo do Campo, São Paulo.
Convidamos todos a virem participar do evento.
No sábado (19/07), às 15h, em São Paulo, será realizada uma palestra de Raphael Machado, Rubem Gonzalez, Alexandre Hage e Thales Rufini sobre as perspectivas futuras para o nosso país.
Rua Martins Fontes, 95, Jordanópolis, São Bernardo do Campo, São Paulo.
Convidamos todos a virem participar do evento.
Forwarded from Lucas Leiroz (Лукас Лейрос)
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EU sanctioning BRICS journalists and Russian civil entities
https://infobrics.org/en/post/52490
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💔2
Forwarded from Raphael Machado
Existe uma dimensão simbólica importante no drama de Bolsonaro.
O chefe político-partidário desempenha no mundo contemporânea um papel análogo ao outrora reservado a heróis e cavaleiros, e quanto mais permeado do "espírito do tempo" é a atuação de um chefe político, mais ela assume contornos míticos. O chefe acaba se tornando a ferramenta de forças impessoais que o superam (diferentemente de certas figuras que "dobram" o tempo, como Napoleão).
Nesse caso, é interessante como Bolsonaro acabou sendo apelidado de "mito".
Na "jornada do herói" uma estação incontornável da saga heroica é a "descida ao inferno", a catábase. Literal em Orfeu e Hércules ou em personagens da literatura como Gandalf - ela aparece sob outras formas em outras ocasiões. Em "Apocalipse Now", todo o cenário da Guerra do Vietnã corresponde a uma gradual descida ao inferno. O treinamento de Luke Skywalker nos pântanos de Dagobah corresponde à mesma ideia. Mas a "descida ao inferno" pode na verdade corresponder a um estado interior de sofrimento, desilusão, catatonia, depressão, descrença.
Nessa fase que corresponde à fase alquímica do nigredo, o herói morre e é testado pela morte, para então, se vitorioso, renascer triunfante. Ele enfrenta seus demônios interiores e se purifica de seus aspectos inferiores. O herói então avança rumo ao confronto com seus grandes desafios.
Na aventura do "herói político", a "morte" corresponde usualmente à prisão ou a uma amarga derrota eleitoral ou política. A prisão, particularmente, guarda um simbolismo interessante. Independentemente de onde esteja realmente situada, a prisão é sempre masmorra e, portanto, correspondente ao submundo. O herói preso desce à solidão escura de uma masmorra, onde ele ficará nu perante si mesmo, para remoer seu fracasso, seus erros e o poder incomensurável de seus inimigos, que o prenderam.
A prisão de um político, pela mesma lógica da "jornada do herói", então, forja o líder em um novo vigor ou o quebra derradeiramente.
A prisão pode ser uma oportunidade para o líder político consolidar sua ideologia, fortalecer sua mente, purificar sua vontade, acumular ódio e convicção, e inclusive estender sua influência. Mesmo preso, através de determinados artifícios e intermediários, sua voz e vontade podem ir longe.
Personagens tão diferentes quanto Hitler e Mandela foram do nadir do encarceramento à apoteose estatal. Ou mesmo, na nossa realidade brasileira, a figura de Lula. Acusado, condenado, preso, solto, vitorioso.
Mas onde entra Bolsonaro nessa história?
Se Lula aceitou a "morte" e encarou de frente, mesmo enquanto lutava politicamente e juridicamente contra a própria prisão, com Bolsonaro estamos diante de alguém que parece estar apavorado diante da perspectiva de ir preso.
Em face da masmorra, da escuridão, da morte, Bolsonaro treme e gagueja, indisposto a passar pelas "Minas de Moria" e de se por à prova. Por isso, se debate desesperadamente e histericamente, recorrendo a todos os artifícios, inclusive à desonra de trair o próprio povo para ser salvo por outrem.
Bolsonaro não quer enfrentar o "dragão do submundo", com o qual ele inevitavelmente se depararia no momento em que se visse isolado, derrotado, trancado, privado de tudo, inclusive da liberdade.
Às vezes o herói, no nigredo, fracassa, se calcifica, vira vilão, como na contra-iniciação kelipótica, ou como no caso do Anakin Skywalker.
Sozinho, agrilhoado, Bolsonaro teria que olhar para dentro de si, e lá ele encontraria apenas a cabeça do dragão, fitando-o.
Efetivamente, ser herói não é para todos.
O chefe político-partidário desempenha no mundo contemporânea um papel análogo ao outrora reservado a heróis e cavaleiros, e quanto mais permeado do "espírito do tempo" é a atuação de um chefe político, mais ela assume contornos míticos. O chefe acaba se tornando a ferramenta de forças impessoais que o superam (diferentemente de certas figuras que "dobram" o tempo, como Napoleão).
Nesse caso, é interessante como Bolsonaro acabou sendo apelidado de "mito".
Na "jornada do herói" uma estação incontornável da saga heroica é a "descida ao inferno", a catábase. Literal em Orfeu e Hércules ou em personagens da literatura como Gandalf - ela aparece sob outras formas em outras ocasiões. Em "Apocalipse Now", todo o cenário da Guerra do Vietnã corresponde a uma gradual descida ao inferno. O treinamento de Luke Skywalker nos pântanos de Dagobah corresponde à mesma ideia. Mas a "descida ao inferno" pode na verdade corresponder a um estado interior de sofrimento, desilusão, catatonia, depressão, descrença.
Nessa fase que corresponde à fase alquímica do nigredo, o herói morre e é testado pela morte, para então, se vitorioso, renascer triunfante. Ele enfrenta seus demônios interiores e se purifica de seus aspectos inferiores. O herói então avança rumo ao confronto com seus grandes desafios.
Na aventura do "herói político", a "morte" corresponde usualmente à prisão ou a uma amarga derrota eleitoral ou política. A prisão, particularmente, guarda um simbolismo interessante. Independentemente de onde esteja realmente situada, a prisão é sempre masmorra e, portanto, correspondente ao submundo. O herói preso desce à solidão escura de uma masmorra, onde ele ficará nu perante si mesmo, para remoer seu fracasso, seus erros e o poder incomensurável de seus inimigos, que o prenderam.
A prisão de um político, pela mesma lógica da "jornada do herói", então, forja o líder em um novo vigor ou o quebra derradeiramente.
A prisão pode ser uma oportunidade para o líder político consolidar sua ideologia, fortalecer sua mente, purificar sua vontade, acumular ódio e convicção, e inclusive estender sua influência. Mesmo preso, através de determinados artifícios e intermediários, sua voz e vontade podem ir longe.
Personagens tão diferentes quanto Hitler e Mandela foram do nadir do encarceramento à apoteose estatal. Ou mesmo, na nossa realidade brasileira, a figura de Lula. Acusado, condenado, preso, solto, vitorioso.
Mas onde entra Bolsonaro nessa história?
Se Lula aceitou a "morte" e encarou de frente, mesmo enquanto lutava politicamente e juridicamente contra a própria prisão, com Bolsonaro estamos diante de alguém que parece estar apavorado diante da perspectiva de ir preso.
Em face da masmorra, da escuridão, da morte, Bolsonaro treme e gagueja, indisposto a passar pelas "Minas de Moria" e de se por à prova. Por isso, se debate desesperadamente e histericamente, recorrendo a todos os artifícios, inclusive à desonra de trair o próprio povo para ser salvo por outrem.
Bolsonaro não quer enfrentar o "dragão do submundo", com o qual ele inevitavelmente se depararia no momento em que se visse isolado, derrotado, trancado, privado de tudo, inclusive da liberdade.
Às vezes o herói, no nigredo, fracassa, se calcifica, vira vilão, como na contra-iniciação kelipótica, ou como no caso do Anakin Skywalker.
Sozinho, agrilhoado, Bolsonaro teria que olhar para dentro de si, e lá ele encontraria apenas a cabeça do dragão, fitando-o.
Efetivamente, ser herói não é para todos.
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Forwarded from ♃ | Augusto Fleck (♃)
♃ | Augusto Fleck
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Um dos pontos focais da discussão sobre a Agenda Woke na mídia, especialmente norte-americana, é a conversão de personagens em mídias adaptadas ou consagradas para alocar uma certa cota representativa de minorias.
É algo visto com frequência em produções atuais da Disney, em que personagens e até mesmo as próprias estórias originais são reimaginados para apetecer uma certa tendência ideológica.
Curiosamente, quando este tipo de coisa é atacada por aqueles que preferem que mídias já estabelecidas tenham suas narrativas e personagens preservados, as acusações de racismo, misoginia, transfobia e afins se acumulam sob o simplíssimo argumento de que essas coisas não interferem na “performance”.
Não importa, por exemplo, se alguém não “parece” com um personagem, afinal, é apenas ficção.
Também juram, de pés juntos, que não há nenhum tipo de ideologia ou agenda envolvidas nisso, que essa representação é algo cada vez mais orgânico e natural. Quem pensa o contrário é racista, misógino, transfóbico, conspiracionista, enfim, vocês conhecem o método.
A graça disso aparece em situações como as da atual escalação de elenco para a adaptação cinematográfica do universo de Legend of Zelda. Durante os últimos meses, a patota Woke tem defendido que a queridinha trans do momento, Hunter Schafer, nasceu (ironicamente) para esse papel. Por que, você se pergunta? Ora, porque ela, em sua versão pós-transição, é a “cara” da Princesa Zelda em uma de suas caracterizações mais atuais. O mundo capota!
Os japoneses não entraram na onda e escalaram outra menina, uma mulher de fato, e a rasgação de cabelos já começou. O argumento é que como o jogo se passa num mundo de fantasia cheio de simbolismos “estranhos” e transformações, seria até mesmo um contexto adequado para colocar uma atriz trans, tentando inverter a própria narrativa.
Ora, não era pra trans serem tratados como “essencialmente” aquilo que — paradoxalmente — decidem ser?
A cada passo, a cada nova reivindicação, a quimera argumentativa só fica pior.
O lado bom disso? Todo argumento que falha em seus argumentos fundamentais está fadado a cair como uma casa de cartas conforme acumula tensões. Quanto mais se tenta defender a narrativa woke, pior ela fica. Até mesmo o núcleo da sopa de letrinhas identitária já começa a mostrar fissões. LGBs já não gostam mais de TQIs, LG começa a acha que B nem existe, e por aí vai.
Há muito avisamos que o vero núcleo do pensamento Woke, ou “Identitarismo”, falha porque identidade não é um instrumento, uma carteirinha de clube que você escolhe e sai mostrando por aí. É algo muito mais profundo, complexo e comunitário.
As cortinas, ainda bem, estão caindo.
É algo visto com frequência em produções atuais da Disney, em que personagens e até mesmo as próprias estórias originais são reimaginados para apetecer uma certa tendência ideológica.
Curiosamente, quando este tipo de coisa é atacada por aqueles que preferem que mídias já estabelecidas tenham suas narrativas e personagens preservados, as acusações de racismo, misoginia, transfobia e afins se acumulam sob o simplíssimo argumento de que essas coisas não interferem na “performance”.
Não importa, por exemplo, se alguém não “parece” com um personagem, afinal, é apenas ficção.
Também juram, de pés juntos, que não há nenhum tipo de ideologia ou agenda envolvidas nisso, que essa representação é algo cada vez mais orgânico e natural. Quem pensa o contrário é racista, misógino, transfóbico, conspiracionista, enfim, vocês conhecem o método.
A graça disso aparece em situações como as da atual escalação de elenco para a adaptação cinematográfica do universo de Legend of Zelda. Durante os últimos meses, a patota Woke tem defendido que a queridinha trans do momento, Hunter Schafer, nasceu (ironicamente) para esse papel. Por que, você se pergunta? Ora, porque ela, em sua versão pós-transição, é a “cara” da Princesa Zelda em uma de suas caracterizações mais atuais. O mundo capota!
Os japoneses não entraram na onda e escalaram outra menina, uma mulher de fato, e a rasgação de cabelos já começou. O argumento é que como o jogo se passa num mundo de fantasia cheio de simbolismos “estranhos” e transformações, seria até mesmo um contexto adequado para colocar uma atriz trans, tentando inverter a própria narrativa.
Ora, não era pra trans serem tratados como “essencialmente” aquilo que — paradoxalmente — decidem ser?
A cada passo, a cada nova reivindicação, a quimera argumentativa só fica pior.
O lado bom disso? Todo argumento que falha em seus argumentos fundamentais está fadado a cair como uma casa de cartas conforme acumula tensões. Quanto mais se tenta defender a narrativa woke, pior ela fica. Até mesmo o núcleo da sopa de letrinhas identitária já começa a mostrar fissões. LGBs já não gostam mais de TQIs, LG começa a acha que B nem existe, e por aí vai.
Há muito avisamos que o vero núcleo do pensamento Woke, ou “Identitarismo”, falha porque identidade não é um instrumento, uma carteirinha de clube que você escolhe e sai mostrando por aí. É algo muito mais profundo, complexo e comunitário.
As cortinas, ainda bem, estão caindo.